A Empresa Aderente ao Risco (The Risk-Taking Organization)

Postado em 22/12/2014 | Autor: Proatividade Mercado

Aswath Damodaran, professor da New York University, é uma das maiores autoridades mundiais em gestão do risco. Um de seus ensinamentos diz respeito justamente à construção de uma empresa afeita à tomada de risco (risk-taking organization). Ele enumera quatro condições fundamentais para uma empresa ganhar vantagem na tomada de decisão pautada pela incerteza.

São preceitos capitais para as organizações que buscam ser mais proativas em relação ao mercado. Isso porque, saber lidar com o risco – e com seu irmão gêmeo, o erro – é uma das capacidades fundamentais da Gestão da Incerteza, pilar básico da Gestão Proativa.

 

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Administração do risco, no entanto, não se faz com discurso: é preciso que a empresa prepare o terreno para que seus tomadores de decisão saibam enfrentar a incerteza e, mais importante, trazendo lucros para a companhia. Por esse motivo, vale nos determos nas dicas de Damodaran.

 

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Empresas que sabem lidar com o risco de forma positiva não o fazem por acaso. Elas, antes de tudo, buscam alinhar os interesses dos tomadores de decisão (isto é, dos gerentes) com os proprietários do negócio (sócios, investidores, acionistas).

Em outras palavras: quem está na linha de frente diária, tomando decisões arriscadas e duvidosas, deve ter em mente o sucesso da empresa, e não seus próprios interesses. E isso só é alcançado se os gerentes souberem que irão ganhar pelos riscos assumidos que se revelarem acertados. Nenhum executivo assumirá riscos se não ganhar nada com essa ação e, pior, se perder caso ela se mostre equivocada. Há que se ter, aqui, um jogo de ganha-ganha.
Agora, quando o alinhamento descrito não estiver sedimentado a organização terá prejuízo duplo, pois:

 

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Neste ponto, a pergunta que não quer calar: como esse (difícil) alinhamento pode ser conseguido? Resposta: por meio de uma eficiente governança corporativa.

 

Uma governança corporativa coerente em relação ao risco assegura uma balanceada distribuição entre as perdas e ganhos (para os gerentes) no que tange aos riscos tomados. Esse equilíbrio significa um ponto ótimo entre os gerentes terem excessiva ou nenhuma participação nos resultados da empresa.

 

Estudo realizado em 2005 em 38 países com 5.452 empresas dá evidências fortes do que estamos comentando. Naquelas em que os tomadores de risco (gerentes) não tinham participação (ações, distribuição de resultados) nos investimentos da empresa, a tomada de risco se mostrou tímida e os gerentes se mantiveram em postura bastante conservadora. Por outro lado, naquelas em que os gerentes detinham grandes parcelas de investimento na empresa, a tomada de risco também se mostrou acanhada, pelo receio daqueles em colocar em risco a quase totalidade de seus investimentos.

 

A descoberta importante, no entanto, foi observar que bons níveis de tomada de risco positivo (riscos que são oportunidades de negócio) apareceram quando os gerentes detinham investimentos significativos nas empresas, mas representando somente uma parte de um portfolio diversificado.

 

Vale aqui, uma releitura do velho ditado: gerentes tomam menos risco quando têm os ovos do investimento todos em uma mesma cesta. Ou não possuem ovo algum.

 

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Empresas boas tomadoras de risco sabem escolher as pessoas certas para lidar com a incerteza. Como já dissemos aqui, alguns indivíduos lidam melhor com o risco do que outros. Eles são menos avessos à ambiguidade e conseguem lidar melhor com a possibilidade sempre iminente do fracasso atrelada às decisões.

     

Certo, pode parecer óbvio que empresas boas tomadoras de risco são feitas por pessoas não adversas à incerteza. A pergunta, no entanto, é: como identificar e reter o tipo de pessoa certa para lidar com o risco?

 

Para tanto, é mandatório reconhecer que:

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Fica claro, então, que o papel da gestão de pessoas na construção de uma organização aderente ao risco é fundamental.

 

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3

 

Empresas eficientes em gerenciar a incerteza premiam a boa tomada de risco. Esse mecanismo calibrado de premiação, no entanto, não é fácil de ser implementado.

 

Políticas de bônus atrelados à lucratividade e participação na forma de ações foram tentativas aplicadas por um bom tempo. A correlação de tais práticas com uma menor aversão ao risco, porém, se mostrou duvidosa. De forma geral, no entanto, sabe-se que gerentes que não recebem qualquer compensação pelo resultado da empresa (apenas remuneração fixa) serão tomadores de risco extremamente discretos, para não dizer nulos.

 

Em resumo: riscos só são assumidos quando os sujeitos dessa ação – os gerentes – souberem que ganharão em correr o risco enfrentado. Sem ganho individual, pouca ou nenhuma tomada de risco terá palco.

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Por fim, o porte e a cultura organizacional aparecem tendo um papel marcante na disposição à tomada de risco. Embora essa constatação algumas vezes não seja inequívoca, empresas de grande porte tendem a serem mais conservadoras diante da incerteza, em que pese terem muito a perder.

 

Elas geralmente se mostram mais lentas em acompanhar as mudanças no mercado, pois investiram muito na manutenção do status quo vigente. É só lembrarmos o caso da Kodak e sua relutância em entrar no mercado da fotografia digital (por força do risco de canibalizar o mercado analógico, em que detinha a liderança) e essa argumentação se torna clara.

 

Já startups e empresas emergentes estão interessadas justamente em subverter a ordem de mercado imposta, são mais proativas e lidam melhor com o risco. Também e de certa forma, por terem pouco a perder.

 

A cultura também tem participação cogente nesse contexto. Empresas, como as pessoas, apresentam comportamentos muito diferentes em relação à incerteza. Em outras palavras: algumas organizações lidam melhor com o risco do que outras, por motivos culturais altamente subjetivos (visão do fundador, experiências passadas, tolerância ao fracasso). Esses motivos variam enormemente de empresa para empresa, o que torna a gestão do risco, em última análise, uma idiossincrasia.

 

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resumo

 

Riscos são oportunidades. Entender essa verdade é o grande primeiro passo para uma empresa saber lidar com os riscos estratégicos do negócio. Uma boa gestão dos riscos não pressupõe evitá-los a toda prova, mas, sim, saber diferenciar entre os riscos positivos (aqueles que devem ser explorados), dos negativos (os que realmente devem ser evitados).

 

Trata-se de uma capacidade baseada em boa informação, rapidez na ação, experiência, recursos e flexibilidade. Cinco questões importantes e que abordaremos em nosso próximo post.



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