PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PROATIVO

Postado em 20/12/2011 | Autor: Proatividade Mercado

Em nossas incursões no campo da gestão estratégica, atuando como professores e monitorando empresas em diversos projetos, temos nos deparado com o que denominamos de “Dilema do Planejamento Estratégico”. Explicamos: aquilo que deveria ser um plano voltado a desafiar as pessoas a pensarem o futuro na maioria das vezes acaba se transformando em uma ferramenta exclusiva de análise do presente. Mais do que isso, vemos também como a construção do planejamento frequentemente isola-se em uma torre de marfim estratégica, tornando o ato de planejar uma ação reservada a “poucos eleitos”.

Por que Jack Welch acabou com o departamento de planejamento estratégico quando chegou à GE no início dos anos 80? Justamente por que esse havia se convertido em um elefante branco colossal, burocrático e letárgico, englobando nada mais nada menos do que 200 profissionais (conta-se que nessa época os relatórios de planejamento da empresa ultrapassavam os 3 metros de comprimento!). Pensadores como Mintzberg e Whittington há muito também denunciam os prejuízos ao pensamento criativo e à inovação, efeitos colaterais de um processo de planejamento estratégico rígido e inflexível. Devemos então abandonar o planejamento estratégico? Longe disso, mas podemos turbiná-lo, tornando-o mais voltado ao futuro. É o que chamamos de Planejamento Estratégico Proativo.

Como ensinou o professor Karl Weick, da Michigan University, há mais de quatro décadas: “planejar não significa somente pensar no futuro, mas agir sobre ele”. Nada mais atual, e é para isso que estamos querendo chamar a atenção. O que ocorre é que o planejamento estratégico frequentemente acaba sendo reduzido ao conhecido forecasting, ou seja, busca-se entender o que está acontecendo (presente), tentando a partir de isso prever-se o que será (futuro). A metáfora do mapa ilustra bem esse paradigma: o planejamento é o roadmap, que provê os estrategistas de uma direção fixa e muito bem definida.  Nada contra os mapas, mas entendemos que a construção estratégica precisa também de radares. Os relevos mudam, e os mapas não acompanham essas mudanças. É preciso rastrear o que ainda não se enxerga.

O Radar dos Momentos-Zero Pulsantes que idealizamos (vide figura abaixo) é uma ferramenta que auxilia os gestores a saírem do quadrado comum das oportunidades e ameaças do mercado de atuação. Oportunidades e ameaças são importantes, não há dúvida, mas o problema é que geralmente elas constituem sinais já bastante fortes e, portanto, reconhecidos por todos os concorrentes. É preciso focalizar também os sinais fracos, indícios de mudanças que já estão por vir. E é preciso também ir além dos limites do mercado de atuação da empresa, buscando o que outros setores têm a ensinar. Aí sim estará completo o ciclo de rastreamento do planejamento estratégico. Ao invés de focar apenas em um quadrante, a empresa passa a varrer quatro quadrantes distintos. Isso eleva de forma exponencial a probabilidade dela descobrir uma tendência ainda adormecida e por isso oculta do mercado.

O planejamento estratégico proativo lança mão de ferramentas como o RADAR que descrevemos, além de outras que podem ser utilizadas, como a Pesquisa Proativa e o Holofote de Imagens Futuras (falaremos dessas ferramentas oportunamente). Esses instrumentos ajudam os estrategistas a detectarem surpresas, tendências e mudanças por meio dos sinais fracos do mercado. Espaços em branco e janelas de oportunidade se abrem quando a visão do planejamento estratégico começa a ultrapassar os limites do quadrante “SINAIS FORTES NO MERCADO DE ATUAÇÃO”, foco da absoluta maioria dos planos estratégicos que tivemos a oportunidade de conhecer! Sintetizando, e, para as empresas que estão pensando em turbinar seu processo de planejamento, aí vão cinco dicas essenciais:

1. Não reduza a análise da realidade apenas à reflexão sobre as oportunidades e ameaças do presente. Essas frequentemente já estão muito claras e reconhecidas pelos concorrentes. Afinal, vale a apena saber alguma coisa que todos também já sabem?

2. Não confunda “sinais” com “fatos”. Uma confusão recorrente é considerar um fato inequívoco (do tipo, “surgimento de novas tecnologias”) com um sinal de mercado. Sinais são avisos quase imperceptíveis de que alguma coisa está mudando ou irá mudar em breve; fatos são acontecimentos de ocorrência certa ou já bastante pré-determinada.  

3. Não limite o radar da empresa apenas ao mercado de atuação. Vá além do seu mercado,  “pense fora da caixa” e considere realidades muito distantes daquela em que sua empresa atua. O que você pode aprender aí?

4. Vá além dos sinais fortes do mercado. Costumamos dizer que os sinais do mercado transitam ao longo de um ciclo de vida: eles geralmente nascem quase imperceptíveis, mas chega o ponto em que passam a pulsar com tal magnitude que a mudança que anunciam torna-se clara e inequívoca. Empresas proativas devem interpretar os sinais antes que eles ultrapassem esse “limite crítico de visibilidade”, para além do qual a vantagem competitiva de uma resposta por antecipação estará comprometida.

5. Reserve uma parte do planejamento para a análise de cenários. Cenários são geralmente negligenciados no contexto do planejamento estratégico. Quando muito se reduzem à mera previsão de crescimento do PIB ou do mercado. Aprenda a construir diferentes imagens do futuro e a pensar sobre elas. Lembre-se que o futuro nunca será um só.

O planejamento estratégico proativo coloca a empresa em outra estrada, fazendo os estrategistas reconhecerem a importância de uma nova visão de futuro no contexto da construção estratégica.  É muito diferente pensar o futuro como “aquilo que é construído hoje”, ao invés de tê-lo somente sob a visão tradicional do “aquilo que ocorre amanhã”. Como bem nos disse Laércio Cosentino, CEO da Totvs: “Muita gente acha que visão de futuro é somente o que se enxerga lá na frente, o que vai acontecer. Aqui na empresa pensamos de forma diferente, ou seja, o futuro é tudo aquilo que, de alguma maneira, induzimos para acontecer. Então não se trata só de olhar tendências futuras, mas de ditar uma tendência, virar o futuro em nosso favor”.



Deixar uma Resposta

This blog is kept spam free by WP-SpamFree.