A PROATIVIDADE DA APPLE NA ERA PÓS JOBS

Postado em 20/12/2011 | Autor: Proatividade Mercado

No encerramento de um debate sobre o tema proatividade de mercado fomos brindados com uma questão que certamente tem sido motivo de muita conversa e de especulações no mundo corporativo: “a Apple continuará inovando com o mesmo vigor sem o comando carismático de Steve Jobs?” É bem provável que muitas pessoas pensem que a empresa, ao tornar-se órfã do gênio criador de Jobs, não será capaz de continuar promovendo as inovações que arrebataram o mercado nos últimos anos, como a revolucionária trilogia representada pelos produtos  iPod, iPhone e iPad.  Isso quer dizer então que a proatividade de oferta da Apple está ameaçada? Daí, o senso comum nos leva ao seguinte raciocínio: sem Jobs, a Apple não será mais a mesma em se tratando de inovações proativas e perderá o poder de guiar o mercado.

Para responder essa questão, devemos nos valer de outra: afinal, por que a Apple tem sido capaz de guiar o mercado de forma tão relevante? Segundo o nosso olhar, esse poder da empresa de modelar o mercado possui duas alavancas poderosas: a aguçada visão de futuro de Jobs, aliada à extraordinária capacidade da organização em projetar inovações de produtos (que acabaram criando o futuro idealizado). Ninguém duvida da força dessa conjunção de fatores. A questão crucial é: como a empresa vai preservar esses fatores e se valer deles para continuar dirigindo o mercado na era pós Jobs?

Comecemos pela análise do fator visão de futuro. Aqui entendemos que a Apple naturalmente perderá vigor, pois nesse quesito Jobs fez toda a diferença e mostrou estar à frente do seu tempo. Ele foi capaz de enxergar com enorme clareza – e de forma antecipada! – o surgimento da terceira “grande era no uso de computadores pessoais” que ele denominou de “digital lifestyle”, conforme atesta o vídeo abaixo que mostra o discurso de Jobs durante a MacWorld Conference em janeiro de 2001, evento anual promovido pela empresa. No antológico discurso, Jobs desafiou crenças vigentes de que os PCs perderiam força a partir dos anos 2000, depois de viverem duas “eras de ouro” representadas, respectivamente, pela onda das planilhas eletrônicas e uso de diversos outros aplicativos (1980 a 1994) e pela explosão da internet (1995 a 2000). A partir daí, em virtude do surgimento explosivo de outros equipamentos como filmadoras portáteis, celulares, DVDs players, CDs/MP3 players e câmeras digitais acreditava-se que os PCs finalmente entrariam em declínio.  Segundo a visão de Jobs, o PC (especialmente o Mac, é claro!) se tornaria o “hub digital” capaz de adicionar valor a todos esses equipamentos, por sua capacidade de rodar aplicativos complexos e também por outros atributos importantes como tamanho de tela e capacidade de armazenamento de dados.  Além disso, o PC seria capaz de conectar todos esses equipamentos. A visão de Jobs se materializou e ganhou ainda mais força com o surgimento do Ipad, um momento-zero de grande intensidade e abrangência no mercado e que conferiu à Apple a liderança absoluta nesse novo segmento de produto cujas vendas crescem de forma significativa.

No campo da inovação de produtos, é certo que a era pós Jobs traz desafios para a Apple, como de resto para toda a indústria, já que, atuando nesse setor, a empresa que não tiver capacidade de renovar constantemente as suas ofertas – com velocidade e boa dosagem criativa – estará praticamente fora do jogo.  Uma das grandes virtudes de Jobs sempre foi a de estimular a busca por audaciosas soluções em design, além de alavancar a criação de funcionalidades incrivelmente amigáveis nos produtos. Não há quem não valorize as facilidades de uso dos equipamentos com o DNA Apple: por exemplo, basta um movimento circular com dedo no iPod e tudo se resolve! Imaginação fértil ao idealizar novos produtos e muita determinação e perfeccionismo na execução sempre foram “marcas registradas” de Jobs à frente dos processos de inovação da empresa. Tudo isso impulsionado por um lema: “tente e erre”! Como ninguém, Jobs estimulou a exploração de novas possibilidades em inovação e levou a empresa a aprender com os erros na busca pelo novo. Acreditamos que isso acabou por sedimentar na empresa uma forte cultura de inovação, o que favorece a consolidação de processos para garantir excelência na execução de novos projetos de produtos (diz-se que muitos deles serão herança direta de Jobs, que trabalhava com um dinâmico “pipeline” de inovações ao planejar as ofertas da empresa para os próximos anos).

Resumindo, acreditamos que no fator inovação de produtos a Apple deve continuar vigorosa, colhendo frutos semeados por Jobs. O grande desafio para a empresa reside no quesito visão de futuro. Das oito capacidades requeridas para a empresa construir estratégias proativas de mercado, não resta dúvida de que a capacidade de visualizar realidades futuras era fomentada diretamente pela presença e idéias inspiradoras de Jobs. Assim, por algum tempo, ao mirar o futuro, a empresa sentirá a ausência do incomparável Jobs. Nada que seja impossível de gerenciar, considerando a força dos comportamentos coletivos na gestão proativa, mas será algo que demandará muita energia e firmes atitudes dos estrategistas da empresa.



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