A REATIVIDADE DA KODAK: A AFLIÇÃO DE UM ÍCONE

Postado em 19/01/2012 | Autor: Proatividade Mercado

Nas últimas semanas o mundo acompanha a situação extremamente delicada por que passa a KODAK, verdadeiro ícone da indústria fotográfica. Estamos presenciando a aflição da empresa que literalmente inventou a fotografia enquanto produto comercial. Resultados negativos que se acumulam ano após ano e o valor das ações em queda vertiginosa parecem apontar para o caminho da recuperação judicial (leia-se “pedido de concordata”).

Vale notar que esse momento delicado encerra uma dupla história: se a KODAK foi extremamente proativa ao popularizar a fotografia no início do século passado – “aperte o botão e nós fazemos o resto” –, deixou-se prender nas redes de uma reatividade excessiva 90 anos depois (descrevemos essas duas passagens em nosso livro “Empresas Proativas: Como Antecipar Mudanças no Mercado”).

Por que isso aconteceu? Uma análise das principais notícias que circulam e a resposta nos parece inequívoca: está claro que a empresa foi ineficaz justamente na gestão de algumas capacidades para a proatividade no âmbito do mercado de fotografias que ela própria inventou, dentre outros problemas na gestão do portfólio de negócios (nos últimos anos a empresa apostou muitas fichas no mercado de impressão, mas essa escolha não se revelou tão eficaz a ponto de gerar lucros para a empresa). Em conseqüência, a Kodak acabou absorvida por uma realidade na qual a adaptação já não era mais suficiente e agora a empresa enfrenta problemas aflitivos.

Os principais deslizes da KODAK nas últimas duas décadas:

1. Baixa capacidade de visualizar o futuro: A KODAK negou para si própria o caminho sem volta da tecnologia digital, que desde o início dos anos 90 acenava como uma realidade inconteste. Negligenciou sinais bastante fortes que já piscavam na tela do RADAR, os quais denunciavam um novo momento-zero na indústria.

2. Receio de canibalizar a oferta: A KODAK teve receio de canibalizar um de seus principais produtos, o filme fotográfico. Isso retardou de forma irreversível a entrada da empresa no mercado digital, o que veio a ocorrer somente em 2005. O mais espantoso é que a câmara digital havia sido inventada pela própria KODAK na década de 70, mas o projeto foi engavetado justamente para não fazer frente ao mercado analógico que a empresa dominava. Quando saiu da gaveta, concorrentes como Sony e Canon já dominavam o novo mercado..

3. Descrença nas próprias inovações: Ironicamente a KODAK sempre foi uma incubadora de inovações, resultado dos históricos investimentos em pesquisa feitos pela empresa. Essa capacidade inovadora, no entanto, não foi aproveitada (como por exemplo, a impressora jato de tinta), e hoje a KODAK tenta justamente negociar as mais de 1000 patentes que possui como forma de atenuar as dívidas.

4. Rigidez administrativa: Faltou à KODAK a flexibilidade administrativa característica das empresas com mais proatividade. Uma cultura corporativa engessada por hierarquias e burocrática parece ter ajudado a desviar a empresa dos trilhos. A lentidão na tomada de decisões, consequência desse modelo rígido, também é destacada como um dos motivos que levaram a KODAK a ficar para trás da concorrência.

5. Excesso de confiança: Outra marca das empresas que se deixam dominar pela reatividade excessiva. Uma certeza inabalável nas conquistas do passado cegou a KODAK para as ameaças do futuro. Comenta-se que a empresa tinha um discurso de superioridade e nunca havia cogitado enfrentar uma crise como a que vive hoje. Pode-se dizer que a KODAK também foi vítima de seu próprio sucesso.

Estreiteza de visão, negação do óbvio, receio em inovar, confiança exacerbada no próprio modelo de negócio. Ineficácias em cascata que ajudaram a selar o passaporte para os tempos difíceis da KODAK. Enquanto a empresa seguia reativamente fabricando produtos que ninguém mais queria comprar, a concorrência antecipava o futuro. Uma lição a ser aprendida pelas empresas que buscam ser mais proativas em relação ao mercado



2 Respostas para “A REATIVIDADE DA KODAK: A AFLIÇÃO DE UM ÍCONE”

  1. Gelta Madalena Jonck Pedroso

    Trabalho com pesquisa acerca da inovação e gostei muito do enfoque sobre a proatividade em termos de sustentabilidade. Seu enfoque e mecanismo de divulgação colabora para que essa idéia se difunda cada vez mais. Parabéns!

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    • proatividade

      Olá Gelta, agradecemos enormemente os teus comentários e elogios. Continue entrando em contato!
      Abraços
      LA/RG

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