ABRINDO AS PORTAS PARA O “ACASO PROATIVO”

Postado em 16/02/2012 | Autor: Proatividade Mercado

“O acaso só favorece as mentes preparadas.” 

Louis Pasteur

No conto persa infantil Os Três Príncipes de Serendip (atual Sri Lanka), três realezas viviam fazendo descobertas inesperadas, cujos resultados eles não estavam procurando realmente. Graças a essa capacidade de observação e sagacidade, os nobres acabavam por descobrir “acidentalmente” a solução para dilemas impensados, o que os tornava especiais e importantes. Aludindo a essa parábola, o termo serendipidade (cunhado pelo escritor inglês Horace Walpole em 1754) é hoje empregado para representar as descobertas afortunadas acidentais, geradas a partir de insucessos e falhas; você procura uma coisa e encontra outra. É o que se chama de “acidente feliz”.

Talvez o exemplo mais clássico de serendipismo remonte à descoberta da penicilina pelo escocês Alexander Fleming em 1928, quando, ao retornar ao laboratório após alguns dias de ausência, observou algumas de suas culturas de bactérias mortas pela ação do fungo Penicillium notatum. Outros episódios famosos: a descoberta da dinamite por Alfred Nobel – ao notar, a partir de um container defeituoso que deixara vazar nitroglicerina, que essa substância poderia ser misturada com um mineral e assim tornar-se mais segura –, do aspartame , por James Schlatter – em 1965, ao pesquisar uma droga contra a úlcera, lambeu o dedo que havia se contaminado com uma das substâncias que manipulava, notando um gosto estranhamente doce – e do fóssil do Homem de Neandertal, acidentalmente descoberto por trabalhadores em uma mina de calcário na Alemanha em 1856.

No mundo dos negócios, exemplos de serendipismo englobam inovações como o onipresente bloco de notas Post-it (3M) e o sabonete “flutuante” Ivory (Procter & Gamble), ambos descobertos por força de equívocos no processo de produção (um adesivo que se revelou pouco aderente e um sabonete areado em demasia). Descobertas revolucionárias como o Nylon e o Teflon (DuPont), também constituem casos notáveis de serendipismo. O exemplo mais recente de serendipidade – e seu impacto na sociedade (e nos lucros de uma empresa) – é representado pelo medicamento Viagra, da Pfizer, inicialmente desenvolvido como fármaco para o controle da pressão sanguínea e que acabou revelando, em testes, eficiente e inesperada ação profilática contra a disfunção erétil. Como se vê, muitas vezes o caminho da inovação disruptiva é bem mais aleatório do que se pensa.

A força do acaso proativo

No campo da proatividade de mercado a serendipidade tem papel especial. É o que chamamos de “acaso proativo”, ou seja, aquele tipo de acontecimento que coloca a empresa cara a cara com a possibilidade de antecipação da mudança. Mas como abrir espaço para a serendipidade, para esse tipo de acaso produtivo e por isso gerador de inovações proativas?

Três atitudes nos parecem fundamentais:

1. “Aprenda a aprender” com o erro. Chamamos a atenção para a natureza do “acaso” ligado à serendipidade. Ele não irá ocorrer se a empresa não estiver aberta às falhas de percurso, tampouco se os gestores não souberem aprender com o erro. Repare: a serendipidade é um acidente positivo, que só é aproveitado por força do conhecimento prévio gerado. Fleming só aproveitou o acaso pelo conhecimento auferido a partir de intensa pesquisa sobre substâncias antibacterianas. Quantos pesquisadores não observaram antes o mesmo fenômeno, mas não estavam preparados para a descoberta?  Portanto, para ativar a serendipidade é necessário que a empresa traduza o que o erro está tentando lhe ensinar, invertendo o curso da construção estratégica ainda vigente na maioria das organizações: trata-se de buscar a pergunta certa para uma resposta inesperada; uma resposta que só surgiu a partir de um “desvio” de trajetória que se soube aproveitar.

2. Assegure o livre curso de ideias. Empresas proativas como a 3M, por exemplo, promovem a serendipidade encorajando os pesquisadores a gastar 15 % do tempo em qualquer projeto de sua livre escolha. Isso assegura que a pesquisa centrada na resolução de problemas não eclipse a pesquisa guiada pela curiosidade. A inovação guiada pela curiosidade é matéria-prima essencial para as empresas proativas. Empresas muito burocratizadas e avessas ao novo, ao “pensar fora da caixa”, dificilmente abrirão espaço para a descoberta ao acaso. Lembre-se que a verdadeira inovação acontece quando a empresa detém a capacidade de “enxergar o que todos estão enxergando, mas pensar o que ninguém até então pensou.”

3. Saiba aproveitar o “acaso”. Para aproveitar o acaso a empresa deve ter o que o cientista Salvador Luria certa feita denominou de “olho receptivo”, ou seja, a abertura para buscar perguntas a respostas que vieram antes. Você se depara com um fato totalmente inusitado e passa a pensar o que ele pode lhe trazer. Os estrategistas também devem estar prontos para discutir novas descobertas e possibilidades abertas pelo acaso, mesmo que elas pareçam, em um primeiro momento, ilógicas ou tolas. Eles devem ter em mente que algumas grandes invenções foram, em um primeiro momento, motivos de escárnio e indiferença.

Sua empresa premia a criatividade e a experimentação?

O departamento de P&D tem tempo para pensar em ofertas realmente novas? Para, como já dissemos, “pensar fora da caixa”?

Enfim, sua empresa reserva espaço para o “acaso proativo”, aquele que leva à antecipação da mudança no mercado?

Se você respondeu negativamente a essas perguntas, lembre-se: Empresas proativas devem manter suas portas abertas para a serendipidade. Caso contrário, o “acaso” poderá ir bater à porta da concorrência.



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